domingo, 11 de abril de 2010

Sonhos que nos acordam

Subia por uma escada e me sentia de bem com a vida. Era um caracol de concreto com grandes vitrais que acendiam todo o espaço. Estava só. Em uma das curvas dei de frente com a irmã da minha ex-namorada. Meus olhos expremeram mais a miopia para entender a visão que defronte me encurralava. Visivelmente ela havia sido vítima de um forte acidente. Seu rosto deformado estava mais gordo e os cabelos sem brilho algum. Seu olhar era o de quem sente todo o amargo da vida perdida em vida. Um de seus braços estava menor que o outro e deformado e havia marcas de queimadura que preenchiam uma parte do abdômen e das costas. Uma outra mulher, mirrada, a acompanhava muda e conivente com o novo estado desta mulher que conheci bela e nervosa. Titubeei um "olá" com qualquer coisa de espanto. Ela me olhou profundamente. Me olhou pelo tempo de um olhar demorado e isso me perfurou a consciência. Sem responder ao vocativo, disse fria e amargamente: Isso é pra você saber que eu tenho muito orgulho de ter sido criada por mulheres! Não senti vontade alguma de me justificar. Faltou-me força. "Eu sinto muito pelo seu bebê"; ela iniciava a descida devagar e presa ao corrimão; "Eu sinto muito por você". Sem me ouvir, continuou; "Eu sinto muito por tudo". Ela somente me olhou e sumiu no baixio da escuridão.
Acordei e não voltei a dormir.

Um comentário:

Não me procure se não for importante