sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De Geração em Geração

Hoje, último dia do ano, dia em que me propus alguns momentos de paz geral, dia que puxei o freio de mão do trampo e me dediquei ao gostoso do ócio, neste dia, há tantos desejado, não consegui ficar só de boas, então vai um texto.

Estou bem perdidinho com essa história de gerações. Pelas contas, faço parte da geração chamada Millennials. Isso parece até bastante bom - coisa nova no pedaço. Esse grupo se relaciona de maneira diferente na Matrix. São individualizadas com desejos coletivos. Suas mente multipolizarizadas e menos lineares apontam para uma comunicação global sem fronteiras e ousada.

A Box 1824, empresa brasileiras, com mentes brasileiras, mandou um filmezinho irado sobre esse tema de gerações. Ele se chama We All Want to Be Young e é por causa dele que estou aqui escrevendo. Assistindo este filme percebo o tamanho da enrrascada que eu me encontro.

Estou agora em casa cuidando de uma jovem senhora de 82 anos que nasceu um pouco antes da geração Baby Boomer. Ela é de antes da II Guerra, mas viveu esta geração Baby Boomer de quarenta e cinquenta, só que com um delay geracional (se posso usar essa expressão). Imagino como ela deve ter achado bem estranho os rapazes da brilhantina, as meninas da mini-saias e os cabelos dos Beatles. Cheia de valores cristalizados na época do onça, honra muito as coisas que seu pai lhe dizia, empresgo fixo, anos de carreira e bailes de carnaval com máscaras, pierrot e colombinas (tudo que os Baby Bommers repudiavam). Entendam: ela não fez parte da galerinha que mudou o mundo nos anos 60, mas o mundo fazia parte daquilo e provalvelmente alguma coisa nela destoou.

Já a minha mãe, que ontem teve uma crise de pressão alta e correu para o hospital para tomar remedinho na veia e chazinho com gosto de nada, foi da Geração X. Ou melhor, ela também é de antes e, para agravar, viveu sua adolescência inteira no sertão da Bahia (imaginem que parte da Geração X chegou nela). Quando enfim resolveu se aventurar na terra da garoa, já era moça, queria casar e ter filhos. Mas como apregoam os freudianos, se ela só teve acesso à realidade do sertão dos zero aos quatorze anos, que cabeça ela vai teria na vida? Pois então: a mesma de quando estava no sertão, pelo menos no que se refere-se a pisiquê. Os jovens com que a minha mãe conviveu (da Geração X) eram mais rebelde, agressivos e esteriotipados. Por incrível que pareça, tais jovens, nascidas em 60 e 70, eram filhos da paz e do amor entende bicho? Nâo é estranhão? Mas a minha mãe não. Ela foi filha da seca e carestia o que representa outra brisa

Agora vem a geração millenials e eu to nela. Pela história eu tenho que pensar de maneira 360, ver a vida pela janela das redes sociais, ter um milhão de amigos, falar com todos eles e conseguir me expressar nas novas mídias. Mas como fazer isso se eu ainda leio livros? Sim acreditem: tem capa, contra-capa, lombada e orelha. E digo mais: como me relacionar com esta nova geração se na minha casa estou imerso na realidade das fraldas Baby Boomer da minha tia e com a pressão alta a XXI da minha minha mãe que é da Geração X? como me comunicar neste novo universo digitalizado se a vida vivida em casa não se resolve com frases no Facebook? Quereria eu fazer um flash mob que juntasse uma galera para a tirar a hipoglicemia a minha tia, mas não sei se isso é tão divertido assim. Isto não tem cara de geração Millennials.

Como serão esses velhos no coletivo individual do mundo em rede? Quem fará o rango sem sal e sem glúten? Não sei. Só sei que não consigo me expressar com a nova geração por ser fruto da geração antiga (que além de serem antigas já eram deslocadas, saca?). Não tenho a velocidade, tão pouco coragem para colocar uma webcan no micro e falar coisas triviais e engraçadas com os olhos virados e um spray no cabelo. Não sei, entendem? tenho vergonha de passar vergonha.

E imaginem que eu só tenho vinte e seis anos e isso já está acontecendo comigo. Acho que daqui algumas décadas, uma crianças já estará deslocada aos quatro anos de idade.

Aliás: Não deve mais ninguém lendo essa porra, textos longos não condizem com a nova linguagem.
Como sou velho, bicho! risos

2 comentários:

  1. Porra Dom!!

    Eu também me sinto deslocado, por ver jovens com 16 anos pra menos com preguiça de ler textos longos.
    Também me sinto deslocado, por gostar de ler livros! Ontem mesmo, me peguei as 4 horas da tarde, deitado na rede na varanda lendo um romance espírita e viajando. Exceto quando fui interrompido por uma amigo do vizinho e seu som do carro no último volume, tocando um funk de baixo calão... O que me irritou, não foi o volume, mas sim a letra podre de sacanagem e minha filha, de 8 anos, ouvindo tudo enquanto brincava com os irmãos de 3 anos...
    Porra, como eu também to véio!!!!

    Abraço querido, feliz 2011 com muita energia, saúde, paz e sucesso.

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  2. Todos os dias são criados e formados soldados acéfalos, que formam um exército de zumbis pronto para devorar os miolos dos que estão por vir.

    Vivemos em um combinado de Auschwitz com Matrix, uma ditadura calada e não-letrada.

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Não me procure se não for importante