sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Homem da casa

Imagem: Thiago Lupo

“Vai casar no tempo de casar, com um homem direito, formado na igreja, sem vícios nem malandragens. Não quero ver filha minha sendo mulher de bandido, tomando porrada na cara e servindo pinga pra sem vergonha na rua, você viu o que aconteceu com a filha da Mariza, não viu?”

Ele olhava pra ela uma única vez e toda a brincadeira de roda cessava. Amava demais a criança, mas não suportava ver seus seios começarem a firmar no peito. O corpo aos poucos tomava jeito e a cabeça ia largando a boneca. Não, ela não podia sair de jeito nenhum. Não podia ter amigos no bairro, nem podia dançar a dança da moda. Tornou-se religioso só para dar um caminho descente pra sua criança. A mãe comprava batom escondido pra que ela só usasse na hora do colégio. Ele chamava isso de sebo de boca: “enquanto morar comigo é do meu jeito”.

Na hora do banho, batia punheta pensando na Mariza pelada.

4 comentários:

Não me procure se não for importante