quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Insuportavelmente EU

Acordo como quem procura o nada incluído em todas as coisas. Em todas as coisas que tem meu nome, meu sobrenome, meu sangue, minha filiação, meu RG que é tão falso quanto o dono do meu RG. Acordei desacossoado, como diria a minha vó, e com uma arrilia, como diria meus tios. E esses "como diria" também fazem parte dos nadas que me constroem. Pouco a pouco entendo a trama da história e do tempo que rói devargazinho todas as coisas expostas ao sol.

Sim, estou exposto ao sol, num inverno claro, sem nuvens e, no mínimo, bonito.

Tantas pessoas têm tantos orgulhos para se se orgulhar e eu fico caçando um orgulhozinho que seja pra dizer: Eu posso!, mas nada posso. Será miopia aparente ou de fato? acho que é um pouco dos dois: com um olho não enxergo de perto e com o outro não vejo de longe. No meio? tudo meio embassado.

Ouvindo o som do carro, Gonzaguinha me disse que, pra ele, a palavra EU já morreu. Pois então. Não foi mesmo ontem que disse: O Eu está com letra maiúscula e todas as caixas altas dos meus tipos. Mas o que será que existia em 80 que nos anos 2000s não existem? Ou será que o EU é tão abominável há séculos e nenhuma mudança se consagrou de fato? Ou de fato observamos uma ruptura na estrutura social e que hoje, nos áureos tempos do sozinho, eu também faço parte desta dança que rompe?

E se rompo com os axiomas do passado, e se já briguei tanto pelos NÓS, e se hoje assumo tanto o EU, e se tudo está tão estranhamente fora do lugar, o que de fato existo no instante agora?

Ouvindo Moacir Santos no fone de ouvido, o colega da baia ao lado me solta um grito: Viva Barretesão; e me convoca para uma cartáse idiota e imbecilizada. Brigo com ele por ter me tirado das minhas linhas e  dos meus sons e ele me responde: Desculpe não ser tão intelectual. Se não fosse tão de foder seria até engraçado. Não é mesmo agora que estou aqui explodindo e expondo a minha fragilidade e cansaço por tantos desentendimentos?

Insuportavelmente EU.

2 comentários:

  1. Sou uma fabricação toda torta
    e essa tortura, tortura de verdade – e isso tudo já faz um tempo.

    É desconfortante o não encaixar-se,
    o não sentir a liberdade de ser o que se é.

    Pior ainda é ver – não de mãos atadas e cheio de conformidade ou vitimologia – que as massas se bem trabalhadas, ficam mesmo homogenias. Aliás, deve estar havendo uma epidemia de homogeneidade...

    ... uma pena... eu adorava a peculiaridade das pessoas.

    Culpa dos nossos políticos-mercenários,
    e da roda sobre a qual eu e você falávamos noutro dia.
    Ou talvez não... talvez seja mesmo o aquecimento global.

    Seja como for,
    afetou não só a camada de azônio,
    afetou a camada mais alta,
    a mais baixa,
    afetou a tua camada – camarada
    e agora a minha.

    Ao rompermos com a dança do acasalamento e a dança da chuva,
    só fizemos parar o barulho,
    porque cada qual dança só, desritmado, numa falta tremenda de alguém que lhe acerte o passo.

    Que mundo vai acabar de pernas pro ar, a gente já sabia.
    Mas o foda é que essa merda toda já estava no ventilador faz tempo.

    ResponderExcluir

Não me procure se não for importante