segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ser ou não Ser

Outro dia, entre um cigarro e outro, o homem falou sobre sabedoria. Ele se autointitulou sábio. Achei interessante, rapidamente uma linda mulher que estava comigo, disse a ele: Humm fale mais sobre. Dei um sorriso a ela, sem mais querer ouvir sobre a sabedoria do sujeito. O homem que se dizia sábio não soube responder. O engraçado são os porques desta cena me vir à mente neste momento sem um link preciso com o que de fato quero dizer, mas tudo está conectado a tudo, então há um motivo.

Este homem, que hoje vou usar de bode espiatório para os meus colóquios, talvez saiba vagamente sobre tudo que se passa por aí.  Olhando um pouco para a história do mundo e das pessoas, sinto, cada dia mais, repugnância deste estado de democracia em que vivemos. Os homens, como já disse anteriormente, não se suportam por natureza. Não se suportam ao ponto de criarem leis e mais leis, para torná-los mais juntos e justos. Que bela democracia! - novamente entro na seara da democracia.

Uma legião de negros foram mortas nos Estados Únidos pelo fato serem de outra cor. Nordestinos são diariamente mencionados em piadas preconceituosas e quanto mais simples, mais próximos da nordestinidade se encontram.

Uma outra mulher, aos risos, contava como sua empregada, nordestina de nome incomum, perguntava a ela como ligar a televisão da cozinha. Sob risadas cheias de humor, explicava ela que o aparelho não era uma tevê e sim um microondas. Sabe ela que foi preconceituosa? Sabe ela em que mundo estão inserido o plano dos objetos? Acredita ela, tavlez, estar plenamente protegida em seu vulnerável emprego, por falar outra lingua e saber diferenciar, com razoável destreza, um microondas de um televisor. Palmas para a certeza dos ignorantes.

Por uma segunda vez me deparo com um Avatar cheio de mensagens de paz e redenção. Não sei se voltarei a assistí-lo, pois o desconforto que sinto em ser humano, junto a tantos e tantos descalabros é tão grande que pode se tornar perigoso para a minha vitalidade, mas começo a pensar que estou no lugar errado. Se os seres humanos, cuja metalinguagem é tida para determinar o grau de requintamento moral entre os animais, estão de fato num grau de avanço moral e cívico, para que existir filmes como avatar? Porque ainda existem piadas de negros, de índios, nordestinos e pobres? Porque ainda questionamos obviedades da vida moderna e adoramos deuses imaginários, se já sabemos da nossa iniquidade moral perante todo o resto? Será que somos esta raça de seres distintos e civilizados? 

Ainda esta semana, para meu espanto, vi pessoas questionando sobre a existência de segregação racial no país. Não é um absurdo? num período com tantos i-fones, i-pads e i-motions a gente ainda ter a necessidade de questionar problemas de segregação? Ser ainda preciso comemorar uma copa do mundo na África como símbolo da igualdade racial? não é um absurdo? Mas sim! questiona-se o problema de segregação e racismo no país e algumas pessoas ainda creem que ele não existe.

Se o ser humano de fato se suportasse, porque então o primeiro mandamento é o de amar uns aos outros? Não existe qualquer despalpério nesta realidade? será que ninguém percebe isso, ou somente eu, o lunático, que vejo as pessoas como bichos mal adestrados, esquecidos de sua natureza primeira?

Olhos para as pessoas pelas linhas das antíteses e o homem que se disse sábio revelou, nas entrelinhas da sua verborragia, o porque de sua sabedoria: passou a ignorar as pessoas. Parece incrível que a fórmula de amor e entendimento social seja a de ignorar. Para se viver em paz, fecha-se do mundo exterior e de suas vis mentes e concentra-se em sí para uma vida menos cansativa. Não deixa de ser uma sabedoria. Bom para um; péssimo para o que se canta por aí. 

Estamos longe, mas muito longe, de compreender a vida em sociedade. Os gregos não captaram nem um centésimo da realidade. Podemos, por fim, assumir a nossa condição de irritabilidade com 'o outro'  e esquecer de uma vez o contato - como fez o sábio, ou abolir de uma vez as diferenças geradoras de piadas e mortes e colocar todo mundo no mesmo degrau de existência.

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