quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Quando falta uma coisa

Voltou a água e do banheiro ouvi a minha mãe bendizendo, entre murmúrios de alegria, o banho tranquilo. Estava no quarto com os amigos e achei graça da cena. Uma água, que vem pelo cano, que por qualquer sinal dos tempos obstruiu-se no percurso gerando incomodo para 750 mil pessoas numa são paulo cheia de recursos. Ao voltar traz de volta aquela sensação de conforto e paz de dias que precisavam ser sacudidos... Faz repensar melhor o cotidiano bom que vivemos, mas por qualquer motivo de repetição (acho que repete-se por ser bom mesmo) passou a ser invisível... Que nem o livro "o essencial é invisível aos olhos". É trivial parafrasear pequeno príncipe, poderia procurar procurar algo em Dostoievski, mas no fim acho que sou trivial mesmo, não tem jeito.

Voltou a água e é bom pensar que ela voltou. Passei a reparar no som que ela faz para encher os canos, pois até então eu não tinha notado... Por três dias esperei por esse som de água corrente, que, agora fluindo, acho bonito seu passar. Pequenas coisas passam a fazer sentido quando não se tem. Assim será com o ar, com a presença, com a terra, com a política. Porque motivo passamos a não ver mais a vida quando ela se torna corriqueira? Talvez como a natureza, a vida é feita de idas e vindas, secas e cheias e o natural desse descompasso seja a necessidade de se perceber o existir. Assim também se fez a história da evolução humana que sofreu mutações em função das mudanças. De macacos a seres humanos houve muita quebra de rotina. Que coisa ein Darwin. Quem diria?

Que gostoso ver a água escorrer. Nem ligo tanto quando é a luz que se vai, pois sem a energia ficamos mais próximos e o fogo é a única fonte que nos faz ter as cores pela qual nos reconhecemos.

Essa carestia não tem fim, porque estou rodeado de coisas boas. A vida é que se sacode pra que no fim eu a entenda como mesmo ela é.

Que bom ouvir os murmúrios da minha mãe... que bom.

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