quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Olvidos

Uma sociedade que cresce sobre escombros.
Advirto aos que leem, que não é só uma questão de ficção científica. Não é somente uma inspiração baseada num filme, mas, sim, um reflexo, um reconhecimento, de coisas vividas, de situações sentidas, de momentos que talvez não façam nenhum sentido para uns e total sentido para outros:

O encontro da alma pelas entranhas da natureza.

Bastardos aqueles que sempre evocam as divindades do progresso para traduzirem valores íntimos relacionados a vida. Não! Aqueles homens e mulheres, vestidos de nú, vivendo em comunidades auto-suficientes e lutando com flechas, não eram sinônimos de atraso. Eram a experiência de vida latente em comunhão com o centro da terra. Homens que se pintavam, que riam, falavam alto, tomavam banho e se reconheciam como mais uma parte do todo. Sim canibais, Sim guerreiros...

Ao pisar no chão, na terra, é possível sentir o que ela tem a dizer para nós. Olhar para uma árvore e perceber nela mais que um objeto inanimado incapaz de pensamentos já me foi possível em momentos de absoluta concentração. Olhar para seu tronco, seu dorso, e poder encontrar nela ancestralidade - a história de outras histórias. Pablo Nacer no Livro Meu avô A'uwe, traduziu o mesmo sentimento ao se despedir de uma tribo indígena Xavante no estado do Mato Grosso. Na caçamba de uma pickup, olhou para trás e sentiu que a floresta se fechava em comunicação repeitosa ao trabalho que fora executar com os índios daquela região.

Homens e mulheres rodam em volta de uma mesma filosofia de entendimento das aflições e intempéries da humanidade. Constroem máquinas, prédios e armas de execução em massa, com o triunfo que gozam de sua contemporaneidade. Todos nós sabemos onde reside a vida. No pequeno, e cheio de gestos, olhar de uma criança. No deixar a vida correr e tratar-se como parte e não como todo.

Uma ideia quando revolucionária demais só sobrevive por meios ilícitos e muitas vezes violento, disse Dostoiévsk em Crime e Castigo. Essa loucura revelada sob os olhos tão arraigados de um pensamento social, só se denomina loucura para que pensamentos não se subvertam.O calor da criação é apagado com meia dúzia de palavras sagradas e todos os dias morrem mais e mais em pról de um desenvolvimento que nada tem a ver com a vida. Enforcam-se todos os dias em gravatas que perderam o sentido que nunca tiveram e comungam ainda das mesmas mortalhas, para expor uma forma de vida que não existe (existência tomada ao pé da letra - mente, corpo e essência).

Como fantoches, afundamos o mundo e seus povos numa cultura que nos afoga de superficialismo e depressões.

Uma frase muito bonita e reflexiva é dita no filme Contato: "Seria um desperdício muito grande um universo somente para nós". Tão simples. Tão irrefutável. Tão feroz. Nosso prazer em reconhecimento e aproximação de uma figura Criadora datam das cavernas e ainda cremos que somos nós a elite das espécies. Como podemos concentrar todas as nossas forças apenas para que haja uma demonstração de superioridade aparente. Um mosquito da malária é capaz de nos tirar a nossa tão soberba força. Inventam guerras, desqualificam outros povos, nos impõe uma moral... e aos poucos percebemos que nada disso realmente existe.

A vida é uma ilusão de ótica. Creia na doença e ela existirá. Creia no medo e não sairá de casa. Creia no membro perdido e ele se movimentará. Se até a ilusão nos é capaz de transformar em seres mais frágeis, que superioridade é essa pela qual dignificamos os nossos filhos, netos e bisnetos? Sob que regra moral nos amparamos e que lei maior nos esquecemos? Um dia não haverá mais mundo para essa espécie de animais tão superiores. Provaremos que tal superioridade, em relação ao todo, são simples bactérias infecciosas. A própria consciência do macro, poderia responder nossa pequenez conspiratória.

Hão os que perguntarão: Que droga você usou? Sempre perguntam tolices diante de situações de aproximação da essência. Essa droga é a realidade. Essa droga é o reconhecimento de própria condição humana e dos séculos que perdemos tentando provar para Quem seja que podemos voar mais alto. Essa é droga.

Continuem o massacre. Não tenho méritos para ser ouvido.

* Olvidos = esquecimento

3 comentários:

  1. Eu só digo que entendo o seu silêncio quando se cala. E sei das palavras que estão por surgir!

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  2. ... as vezes os seres humanos buscam explicações de suas próprias duvidas em outras fontes, que não condizem com sua natureza, são como os cegos de nascença tentando imaginar como é a cor verde e afirmar que ela é verde, apontando para a cor prata...

    O Homem não quer assumir a culpa de ter fugido da sua natureza e assumir a responsabilidade de ter criado uma Utopia, apenas para se diferenciar dos outros animais... e que por sinal foi muito mal feito, se fosse perfeito não teríamos dúvidas e nem respostas, a compreensão do mundo, do astral, do metafísico e do espaço correria em suas veias de tal forma, que não haveria questionamentos, apenas a mais pura forma de compreender a si e a tudo a sua volta...

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Não me procure se não for importante