segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Venturas de um cavaleiro atemporal

Numa agradável conversa na avenida paulista, Sabo, grande amigo, poeta, música e filósofo, e eu ficamos admirando a grande escultura do Don Quixote de La Mancha que montaram no conjunto nacional.

Fiquei pensando o porquê de tantas vezes retratarem o Don Quixote por aqui? Não somente o Don, mas seu escudeiro Sancho Pansa, seu cavalo o Rocinante. Qual motivo leva essa contemporanização da figura do louco?

Essa personagem de Miguel de Servantes foi apresentada ao mundo no século XVII com o livro, em dois volumes, que carregava o nome do seu protagonista. Na novela, Don Quixote era um homem de meia idade relativamente normal. Quando eu ouço as pessoas comentando sobre as venturas do cavaleiro andante, sempre falam sobre as lutas contra moinhos de ventos, que ele jurava serem monstros que o impedia o caminho, mas um outro fato é tão importante quanto os moinhos.

O que levou Quixote a esse estado de loucura foram as diversas novelas de cavalaria que lera. Ele era um devorador desse tipo de literatura, ao ponto de ver a vida pelo viés dessas páginas: Casebres eram castelos; tabernas com anões perigosos eram guardas da corte; a mais coitada das campezinas era a musa pelo qual guardaria até a morte a honra. Quixote vivia um mundo de sonhos inventado por escritores que provavelmente nunca pegaram em lanças. Ele fez real esse mundo de falsa honra.

E não seria esse exemplo quixotesco a realidade de muitos e muitos que hoje vivem entorpecidos pelas maravilhas da televisão? Não é um Quixote, esses homens marombados que sonham ser atores da malhação? Não seria os Rocinantes os carros turbinados que as propagandas insistem em nos vender? Não será a nossa sociedade, baseada na mímese e nos feitiches modernos, um exército muito maior do que o protagonista do livro de Cervantes? Olhando bem para esse povo que acredita nas mesas de cafés das manhãs das novelas brasileiras, será que somos todos Dons?

Ahh Saavedra. Ou você foi muito visionário, ou somos atrasados pra porra!

Um comentário:

  1. A gente não entendeu ainda que a arte retrata aquilo que somos né. Quixote não é uma figura da literatura apenas e ponto. Ele é uma manifestação das crenças, valores, críticas e todo o imaginário que faz parte de uma sociedade. Ele nasceu a partir de características reais (daquela época ou da época que o sucederia)e se tornou o que se tornou, sob a ótica, sob o ponto de vista de um autor...
    Estamos muito acostumados a assistir a um filme, sair do cinema, desligar a TV, depois de tanta sessão de "ficção", mesmo que não seja científica, e pensar: "Nossa, ainda bem que não é comigo né!", ou "Bom, amanhã mais um capítulo".
    Até dá pra entender... tem coisas que realmente não são arte..são descartáveis.Ah... esqueci, é que se for muuito de verdade, não vai ser engraçado né!..Ah, é mesmo... Não vai dar pra rir quando falarem seriamente os males que nos assolam né... é mesmo! É que Harry Potter acaba deixando a gente mal acostumado né. É muito efeito visual pra se prestar atenção em outras coisas...(coitado, nem é culpa do Harry Potter)
    Na verdade o que quero dizer é que não tentamos nos analisar e nos reconhecer naquilo que já é existente, ou pra mudar o que está errado, ou pra melhorar o que já está legal, ou ainda pra não fazer igual. Se todos tivessem o perfil analítico...

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