segunda-feira, 14 de março de 2011

Limpo-sujo

Escrever os próprios pensamentos, como se o gesto fosse um desafogador de pirações. Como uma máquina de lavar dos filmes americanos, aquela que você coloca as roupas sujas por uma janelinha no meio e deixa o troço lá ganhando força, expelindo sujeira e alvejando pútrido. Escrever é como colocar as roupas na máquina de lavar e deixar as ideias todas limpas. Os dias se combinam numa mescla de coragem e medo. Coragem de enfrentar os rojões cotidianos e medo de pensar em tudo. Tanta coisa pra pensar que falta aquele momento de ócio gostoso, que se brisa em mil formas de mudar o mundo num giro caleidoscópico da mente. Podem ser uma infinidade de ilusões, esses pensamentos edificantes que surgem no retrovisor do ócio. Mas às vezes é bom pensar que um pensamento super-homem invade a nossa psiquê e nos enche de possibilidades de mudar o mundo. Escrever esse amontado de pensamentos, com as canetas do século XXI me fazem retroceder (apesar de século XXI) aos instantes nascedouros. Instantes instáveis de nossa adolescência febril e cintilante onde o tudo é novo e o velho é ontem. É como que se escrevesse abrisse uma fenda no meio disso tudo e tudo que há de belo e sujo em nós tomasse corpo novamente. É estar num portal dimensional que lhe permite viajar para outros mundos e perceber-se de outras formas - impossíveis nesse plano de conjunturas econômicas. A hipocrisia, mãe de todos os religiosos, nos força a fazer das dores um ofuscamento do real. Um plano difuso de si mesmo e de suas mal construídas construções... O ato de expor-se na tela de embaralhadas palavras é um norteador de sua verdade crítica, de seus pontos e de suas vírgulas... é um entregar-se a sua própria catástrofe, sem privilégios súditos e bandidos de amotinados tão facilmente comprados com um pão.  É estar em si e nu, revestido do amor que faz consigo mesmo na certeza que dilata as pupilas da alma neste espelho que são as palavras. Neste inundar-se tsunâmico, não saio mais limpo ou mais sujo. Saio como homem que acabou de lavar suas roupas sujas sem ter onde pendurá-las... visto a limpeza do traje, mas sorvo a frieza do úmido...  tipo assim: limpo-sujo!

2 comentários:

  1. Escrever muitas vezes é um ato de exorcimo de tudo quanto é podre, confuso, excitante e louco dentro de nós. Escrever é a linha tênue de razão e loucura que nos assola, quem poe na cabeça uma coroa de espinhos com forro de veludo e se denomina Criador por certo, não divagou tal ato numa folha de papel.
    E no fim somos tentados e maltratados por nossos demonios, carregamos nossa loucura, tal qual um estandarte dourado e sorrimos para o nada e com tal gesto bestial e sem sentindo, vivemos nosso mundo, que só faz sentindo para nós mesmo. E mais ninguém.
    Sou Padre? Sou Louco? Não, sou somente um atrevido que não se opos em escrever...

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  2. Escrever é mostrar seu mundo
    Relatar seu própio espaço interior
    E será sempre um processo solitário
    Eu sou a louca sem face
    Que mesmo diante de palavras/ideias
    Completas não exito em calar-me.

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Não me procure se não for importante