Isto não é uma história de ficção.
Para todos que criam ou depositavam esperanças em mim, gostaria de revelar um segredo:
Eu sou um grande Covarde.
E como bem diz o nome, gostaria de começar pedindo desculpas à minha mãe, meu pai, irmão e namorada. Porque para um bom covarde, tudo começa com uma bela desculpa. Sei que vocês esperavam mais de mim, mas infelizmente é isso. Sei também que vocês sempre tiveram muita coragem para encarar a vida, mas esta mesma coragem não foi colocado na minha mamadeira.
Eu sempre soube que eu era um banana, mas não entendia os sinais que a vida me dava, porém hoje, olhando para trás, tudo faz sentido.
Naquela sala de cinema em que saí corrido, tropeçado, soluçando em direção ao banheiro para chorar sozinho em frente ao espelho, eu pranteava por perceber o grande covarde que se erguia (ou dormia) em mim.
Não, eu nunca fiz um grande feito. Nunca atravessei a rua com os olhos vendados. Nunca joguei roleta russa para ver no que dava. Isto nem de longe seria um feito meu.
Há tempos atrás, me incomodei com um personagem de Edukators. Aquele senhor que foi sequestrado. Claro, ele é um típico covarde que deixou que a vida o engolisse pouco a pouco. Carro por carro, seguro por seguro, casa por casa. Ele não teve coragem de erguer sob si mesmo. Assim era eu, olhando a cena e brigando contra minha própria essência, mas transferindo a ele a culpa de todos os males que me afugentavam.
Sérgio Sampaio disse na canção
"Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou"
O sujeito oculto presente na primeira oração sugere que ninguém entendia nada do que ele tinha em mente, mas eu sei. Eu sei muito bem. pois este é o retrato do covarde se escondendo dos olhares inquisidores. Pra terminar, revela sem perceber
"Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval..."
pois para não gerar polêmica você quer isso e aquilo também, tudo disso e nada disso. É preciso garantir a fantasia do grande carnaval e calar sua essência.
O cara corajoso, entra na curva sem dar seta, não anda descalço, come a manga com as mãos e suja a camisa de amarelo, já o covarde não entra na contra-mão e em dias de chuva, só anda na rodovia a setenta cuja velocidade é cem. Quem conhece um covarde e me conhece é só comparar.
O que busco é o vai da valsa, a trama do rio sem transgredir a natureza que por si só tem beleza. Empresto dos outros o carisma para fazer-me herói e poucas vezes falo em primeira pessoa. Não existe exposição, só muros sem nome ou sobre-nome.
Mas agora serve esta de revelação. Não para que eu me torne mais corajoso, mas para que eu seja o covarde que sou sem vergonha de mim. Não esperem a vanguarda. Não me guardem como um ícone a não ser que queiram se juntar ao time dos covardes confessos. Venham a mim os que não tem coragem de levar o baluarte no front, os que gaguejam quando questionados sobre seu próprio nome e que se cagam diante de uma apresentação. Venham e libertem-se da convenção do herói que tantos os aflige.
Não era Álvaro de Campos em sua cidade a cem por hora, era sim o bucólico e confuso Alberto Caeiros que se manifestava na cabeceira da minha cama. Era ele em sua originalidade covarde que me guiava nas noites. E eu achando que era natureza? nada.
Agora desperto em minha covardia, vou dormir mais cedo pois está frio e tenho medo gripar.